quarta-feira, 18 de junho de 2008

Afoxé AYÓ DELÊ, a alegria da casa





A onde vai BABALOTÍN? Vou sair no afoxé...
Se me perguntarem onde eu me sinto mais negra poderia dizer que é em qualquer lugar, mais onde me sinto mais africana eu posso dizer sem sombras de dúvidas que é no cortejo do afoxé.
Desde de 2001 eu desfilo no bloco de afoxé Ayó Delê, um cortejo afro do qual eu sou destaque. Já desfilei em todas as alas do cortejo, e no dia 10 desse mês de junho o bloco foi de novo as ruas e eu com ele.
Esse bloco afro faz homenagem as Iabás africanas, em especial a Oxum, senhora dos rios, da beleza, da maternidade e do ouro.
Há sete anos o afoxé leva alegria aos becos da antiga capital Goiás, fazendo uma alusão a festa da rainha negra citada por alguns historiadores goianos como Sebastião Fleuri e Paulo Bertrão.
Segundo esses historiadores essa festa, datada do séc xviii, consistia em um cortejo onde uma escrava jovem e linda era escolhida para ser rainha. Em seguida ela era banhada nas águas do rio Vermelho, e vestida de dourado para lembrar as riquezas da mãe África. Nesse dia essa rainha era venerada e desfilava pela antiga Vila Boa, hoje Goiás.
Esse cortejo lembra os cortejos de etnia banto angolano. O afoxé nasceu do desejo de reviver esses momentos gloriosos dos quais nossos reis e rainhas africanos tanto quizeram preservar em terras goianas
Durante o cortejo a língua falada e cantada é Ioruba ou bantu, tudo como manda na tradição afro, mas a alegria que o cortejo traz a onde quer que passe é universal, vai além das letras do Ijexá e das cores das roupas.
A alegria está estampada no rosto de quem desfila e de quem assiste e acompanha mesmo que timidamente, sem entender porque os tambores os chamam.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Maio mês dos sobreviventes


Sei que já estamos acabando Junho, mas senti a necessidade de escrever sobre Maio, sobre esse mês, em especial sobre um dia.
O 13 de Maio fui convidada a ministrar uma palestra na Universidade Estadual de Goiás de Goianesia, cidade que fica a 200 km de Goiânia.
Fiquei muito feliz pelo convite, sobre tudo por ser neste dia que divide opiniões no meio da militância negra.
No dia 13 de Maio de 1888 a princesa Isabel assinou a Lei Áurea que libertava os escravos do cativeiro. Chegava ao fim, depois de quase três séculos, a escravidão negra no Brasil.
Quando digo que essa data gera discursões no meio da militância falo do fato em que alguns grupos não aceitam esse dia como dia da liberdade, pois para eles o fato da princesa ter sido forçada a assinar essa lei, e também porque muitos negros preferiram as condições de escravos para não morrer de fome, faz do dia 13 não o dia do fim das senzalas mas do inicio de mais ciclos de martírio para os ex-escravos, jogados a própria sorte.
Nascia naquele momento uma nova classe, a dos mendigos, pedintes, servos que trabalhavam por um prato de comida. Então quando me perguntaram durante a palestra se eu, enquanto negra, mulher e educadora, acreditava que temos o que comemorar naquele dia 13 de Maio respondi, com toda certeza, temos sim.
Eu estou aqui em um espaço que antes era só dos brancos e que até hoje poucos negros conseguiram ganhar. O mundo acadêmico como todos os outros lugares em que se discutem opiniões hoje é lugar de negro, aliás como dizia Abdias do Nascimento: lugar de negro é em todo lugar. Muitos morreram para que eu e nos pudéssemos estar onde estamos.
Viva nossos reis africanos, viva Zumbi de Palmares, viva Nzinga Matamba.


quarta-feira, 7 de maio de 2008

de volta aos palcos : 1º Salão do Livro de Goiânia




No mês de Abril eu pude matar um pouco a saudade de estar com crianças, Participei como contadora de histórias do primeiro Salão do Livro de Goiânia, que aconteceu de 2 a 6 de Abril.
Mais uma vez me senti como uma principiante na frente de cento e vinte pessoas e pessoinhas de 3 a 50 anos. Contei uma história que adaptei de um mito africano coletado pelo antropologo Pierre Verger, “A dança de Oxúm”. Foi lindo demais ver e sentir todos aqueles olhares, e mais uma vez me vi criança-mulher no intuito de fazer ás pessoas sonharem junto comigo.



a história que brota da terra

No final do mês de Março tive minha primeira experiência de campo arqueologico. Trabalhei por quinze dias em uma pequena cidade do Tocantins, Palmeiropólis, na verdade aos arredores da cidade, onde fizemos o resgate de 6 sitíos arqueologicos pré-históricos. Lá coletamos artefatos para pesquisas em laboratório que nos diram apartir de que periodo aquela area foi povoada, e por quais etnias. A teoria sobre o trabalho do arqueólogo jamais pode nos passar ou explicar a emoção de encontrar seu primeiro artefato arqueologico, ou da beleza especifica de cada sitío pesquisado, do aprendizado adquirido com o convivío com as pessoas daquela região, pessoas com as quais você convive e se interaje durante a execução da pesquisa de campo. E então você percebe que a história para uma pesquisadora não vem só de documentos e livros ou da oralidade, mais ela brota dos poros e da terra.

Uma das etapas da pesquisa de campo do arqueólogo é a educação patrimonial, que tem o papel não só de levar á comunidade o resultado das pesquisas mas devolver á população local parte de sua história em forma de artefatos arqueologicos. Por isso a educação patrimonial é parte fundamental da pesquisa de campo, já que atraves dela a população que vive aos arredores dos sitios arqueologicos percebe a importância da conservação dos mesmos para gerações futuras enquanto identidade local.



quarta-feira, 5 de março de 2008

EU, EU, e EU mesma

Sei que somos respónsaveis pelas escolhas que fazemos na vida, e que temos que aprender a lidar com as dificuldades e lembranças, mais estou vivêndo um momento de transição, quem não está.
Nestes meses não tinham conseguido escrever nada no blog então primeiro peço desculpas pela demora. Mais dedicarei maior atenção a ele, e as pessoas que por ele passaram.
No momento estou meio orfã pois estou sem sala de aula, e amo dar aulas, estou com um trabalho de assesoria no IGPA, instituto geográfico de pesquisas arqueologicas da universidade católica de Goiânia, estou escrevendo minha tese de mestrado que é na area de arqueologia pública. Já acabei de escrever meu primeiro livro de contos afro que espero conseguir públicação logo; isso associado a uma dose de nóstalgia, filha adolecênte, casa, e outras coisas mais me impediram de fazer com que meu blog cumprisse a proposta de troca de experiências e informação para qual ele foi criado...
Em suma me desculpo e agradeço pelas visitas postadas ou não.
Muito axé.

A todas as mulheres


Há tempos que a mulher deixou de ser vista como sexo frágil, pois a cada ano ele assume mais papeisna sociedade: o de chefe de familia sem dúvidas é o que exige mais dela. Pois, ao assumir esse papel, ela agrega a ele mais um personagem de sua diversas identidades: a de mãe, pai, empresária.
E com essa concepção o simples ato de paquerar vai sendo substituido, por relacionamentos rápidos, não por que o romântismo se perdeu da essência feminina mais pelo corre corre diário que a maioria delas vivência.
Neste sentido me pergunto as vezes onde foram parar as Amélias, não as submissas mais aquelas que ainda acreditavam em caras metades, e relacionamentos estáveis.Talvez tenham sido sucumbidas pela exigência do mercado de trabalho, que obriga as mulheres a se prepararem cada vez mais intelectualmente, o que, associado ao trabalho e filhos em alguns casos, deixa pouco tempo para o romântismo e as vaidades do dia a dia.
Então em mais um mês dedicado as mulheres o que dizer a elas talvez se encaixe aqui as palavras do sempre grande para mim Che Guevara, seguidas de pequena adaptação: "Há de se endurecer sempre mais sem perder a ternura” no nosso caso há de se preparar sempre mais sem perder a nossa essência enquanto mulheres e femininas, e por que não nos permitir ser cuidadas, ao inves de cuidar de tudo e todos...

Dia internacional da mulher

PORQUÊ O DIA 8 DE MARÇO
Neste dia, do ano de 1857, as operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque entraram em greve, ocupando a fábrica, para reivindicarem a redução de um horário de mais de 16 horas por dia para 10 horas. Estas operárias que, nas suas 16 horas, recebiam menos de um terço do salário dos homens, foram fechadas na fábrica onde, entretanto, se declarara um incêndio, e cerca de 130 mulheres morreram queimadas. Em 1910, numa conferência internacional de mulheres realizada na Dinamarca, foi decidido, em homenagem àquelas mulheres, comemorar o 8 de Março como "Dia Internacional da Mulher". De então para cá o movimento a favor da emancipação da mulher tem tomado forma, tanto em Portugal como no resto do mundo.

O QUE SE PRETENDE COM A CELEBRAÇÃO DESTE DIA
Pretende-se chamar a atenção para o papel e a dignidade da mulher e levar a uma tomada de consciência do valor da pessoa, perceber o seu papel na sociedade, contestar e rever preconceitos e limitações que vêm sendo impostos à mulher.


MARCOS DE UM PERCURSO

Em Portugal
1822 - Primeira Constituição Liberal. Tanto esta Constituição como as seguintes afirmam. que a lei é igual para todos, sem referência especial às mulheres.

No mundo
1691 -Estados Unidos
As mulheres votam no Estado do Massachussetts. Perdem este direito em 1789.
1788 - França
Condorcet, filósofo e homem político francês, reclama para as mulheres o direito à educação, à participação na vida política e ao acesso ao emprego.
1792 - Reino Unido
Mary Wollstpnecraft pioneira da acção feminista, publica uma vindicta das Mulheres.
1840 - Estados Unidos
Lucrécia Mott lança as bases de Equal Rights Association pedindo a igualdade de direitos para as mulheres e para os negros.
1857 - Estados Unidos
No dia 8 de Março, em Nova Iorque, greve das opcrárias têxteis para obter a igualdade de salários e a redução das horas dc trabalho, para 10 horas por dia.
1859 - Rússia
Aparecimento de um movimento feminino em St. Pctersburgo para a emancipação da mulher.
1862 - Suécia
As mulheres votam nas eleições municipais.
1865 - Alemanha
Louise Otto funda a Associação Geral das Mulheres AIemãs.
1866 - Reino Unido
John Stuart MIII, filósofo e economista inglês, reclama o direito de voto para as mulheres.
1868 - Reino Unido
Criação da Sociedade Nacional para o Sufrágio Feminino.
1869 - Estados Unidos
Nascimento da Associação Nacional para o Sufrágio das Mulheres. O estado dc Wyoming concede o direito de voto às mulheres para atingir o número de eleitores necessário para entrar na União.
1870 - França e Suécia
As mulheres têm acesso aos estudos médicos. - Turquia
Inauguração de urna Escola Normal destinada a formar professoras para as escolas prirnárias e secundárias para raparigas.
1874 - Japão
Abertura da primeira Escola Normal para raparigas.
1878 - Rússia
Abertura da primeira Universidade feminina em St. Petersburgo.
1882 -. Estados Unidos
Susan B. Anthony funda o Conselho Nacional de Mulheres, tendo como patrono Victor Hugo; o célebre escritor era então um dos chefes do Partido Republicano.
1893 - Nova Zelândia
Concedido o direito de voto às mulheres.
1901.- França
O deputado socialista René Viviani, sustenta pela primeira vez um debate sobre o direito de voto das mulheres.

Se as coisas fossem mãe

Silvia Orthof

Se a lua fosse mãe, seria mãe das estrelas.
O céu seria sua casa, casa das estrelas belas.
Se a sereia fosse mãe, seria mãe dos peixinhos.
O mar seria um jardim e os barcos seus carrinhos.
Se a casa fosse mãe, seria a mãe das janelas.
Conversaria com a lua sobre as crianças estrelas
Falaria de receitas, pastéis de vento, quindins.
Emprestaria a cozinha pra lua fazer pudins !!!!
Se a terra fosse mãe, seria a mãe das sementes.
Pois mãe é tudo que abraça, acha graça e ama a gente.
Se uma fada fosse mãe, seria a mãe da alegria.
Toda mãe é um pouco fada...
Nossa mãe fada seria.
Se a bruxa fosse mãe, seria uma mãe gozada;
Seria a mãe das vassouras, da família vassourada.
Se a chaleira fosse mãe, seria a mãe da água fervida,
Faria chá e remédio para as doenças da vida.
Se a mesa fosse mãe, as filhas, sendo cadeiras,
Sentariam comportadas, teriam boas maneiras.
Cada mãe é diferente. Mãe verdadeira ou postiça,
Mãe vovó ou mãe titia,
Toda Mãe é como eu disse!
Dona Mamãe ralha e beija, erra, acerta, arruma a mesa,
Cozinha, escreve, trabalha fora,
Ri, esquece, lembra e chora,
Traz remédio e sobremesa...
Assim é a minha mãe !!!

Zwelenu o dimi dyetu

Zwelenu ni tangenu, zwelenueeh
Falai e lede, falai!

Kimbundu kia akulu-a-ndamba
O Kimbundu dos ancestrais

Anò a Ngola ku Luanda kuna
Filhos de Angola ali em Luanda

Kondekenu dimi dia oxi yíetu!
Honrai a língua da nossa terra

Dimi dyetu, kifa kyetu
Nossa língua, nossa cultura (costume)

Anga kifa kyetu, mwenyu wíetu
E nossa cultura,(é) nossa alma

Ki fwa o dimi, mwenyu u fwa we!
Morre a língua, a alma morre também!

Bwamoxi twondo banga ibaku ya mbote
Juntos faremos criares boas

Kwaku ni kwaku u sukula mukwa
Uma mão lava a outra

Mayadi, ma sukula mu polo!
As duas lavam a face

Ukwenze wa-la mu dimi dia manyíetu
O vigor (fortidío) esta na língua da nossa mãe

Mutu kene dimi, kene ukwenze
Pessoa sem língua, não tem vigor

Anga mutu kene ukwenze, kene mutu
E pessoa sem vigor, não é pessoa

Kiyama kia muxitu ngo!
Somente bicho do mato!

Dimi dyetu, kifa kyetu
Nossa língua, nossa cultura

Anga kifa kyetu, mwenyu wéetu
E nossa cultura, é nossa alma

Ki fwa o dimi, mwenyu u fwa we!
Morre a língua, a alma morre também

Zwelenu ni tangenu, zwelenueeh
Falai e lede, falaiiii!

Kimbundu kia akulu-a-ndamba
O Kimbundu dos ancestrais

Anaa Ngola ku Luanda kuna
Filhos de Angola alí em Luanda

Kondekenu dimi dia oxi yíetu!
Honrai a língua da nossa terra

Kiba-Mwenyu