segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Umbanda e seus símbolos sagrados

“...A força de um povo está nos símbolos que o mesmo resguarda...”, Adesk (1999).
Desde os primórdios dos tempos podemos observar a importância dos símbolos na existência do ser humano, símbolos estes que os remetem a uma lembrança, seja ela de felicidade ou não, estes símbolos funcionam como um elo entre o material e o sentimental ou espiritual em se tratando de religião.
Podemos destacar periodos importantes da história onde os simbolos tiveram um papel fundamental. Um deles foi a guerra santa onde cristãos tentavam convencer seguidores de Maome que Jesus estava na cruz, enquanto que os outros pregavam o alcorão e ambos estavam certos dentro de sua convicção, mais tanto um quanto o outro acreditavam que só a sua fé e que valia o que causou a morte de milhares de pessoas em nome de “Deus”, mais quem é Deus neste caso onde ele estava na cruz, no alcorão, nos dois ou em nenhun apartir do momento em que começaram a se matar. Espynai, 2001, “Deus é tão grande que é impossivel fecha-lo em único sistema... pois não é isto ou aquilo mais isto e aquilo...”.
Todo este ensaio foi feito para nos levar a refletir sobre a importância dos símbolos em nossas vidas, e os mesmos na vida do outro. Somos nós em que determinamos o que é importante em nossa vida, e cabe a nós perceber a importância de determinadas coisas na vida do outro com o qual convivemos. Em se tratando de religião então o cuidado tem que ser maior, na Umbanda não temos bíblia, é uma religião que se vive e dentro desta vivência temos nossos símbolos que chamamos de pontos de força. Sempre são elementos ligados á natureza, o fogo que é a vela firmada, a água quase sempre em vasilhas de argila, a terra, as pedras, a madeira, sempre elementos que unem o homem á natureza criando um elo entre Zambi que é como chamamos Deus e os homens nós.
A Umbanda é acima de tudo uma religião que se senti, depende de você essa percepção. Você é que vai determinar a extensão do que vai sentir. É como ver o mar pela primeira vez, se você deixar o som entrar nunca mais vai se afastar dele, e assim com toda religião espiritualista se você olhar com os olhos do coração vai perceber que sempre foi espiritualita, só não havia percebido.

A Senhora das Cabeças e a Rainha dos mares

Odoiá.... é assim que se saúda a mãe de todos nós, a rainha dos mares, uma das orixás femininas mais cultuadas no Brasil, Iemanjá, símbolo de pureza e dona do equilíbrio. Ela é a dona de nossas cabeças e a ela que devemos pedir equilibrio e direção para que nossos caminhos sejam sempre trânquilos como o mar em suas calmarias.
Hoje é dois de fevereiro o que para algunas nações espiritualista é o dia dedicado a mãe das águas, neste dia as pessoas se dirijem ao mar para ofertar flores, perfumes, batons, tudo para agradar Iemanjá e conseguir sua proteção.
De acordo com os contos Iorubas: “o mar não tinha ondas e com a criação do homem, ele começou a sujar o mar, o que deixou Iemanjã furiosa. Ela foi até o Orúm, céu dos orixás, e pediu a Orumilá que tomasse uma providência ou ela invadiria a terra com suas águas e lavaria todo sujeira do homem, inclusive ele mesmo. Então Orumilá teve uma idéia, deu a Iemanjá o poder sobre as ondas que até então não existiam, através delas Iemanjá devolve ao homen toda sujeira que ele joga nas suas águas, e consta ainda que quando acontece aquelas mares altas onde o mar invade as cidades é ela que não aguenta mais vè o que o homen tem feito com suas águas...”
Este é um dos mitos da mãe das águas, senhora de nossas cabeças, dona dos mares, salve Iemanjá a rainha do mar, Odoiá, minha mãe.

Um olhar negro sobre Goiás: mitos e ritos afros sobre os becos de Vila Boa

Muito se conta sobre a antiga Vila Boa de Goiás, seus becos inspiraram grandes nomes da literatura goiana e brasileira. A cidade, que foi apresentada ao mundo sob os olhos da saudosa filha ilustre Cora Coralina, carrega em quase todos os seus poemas uma marca registrada, ou melhor, o suporte de sua identidade social, a religiosidade.
Goiás se fez em evidência, aos olhos do Brasil não só pela riqueza de sua arquitetura colonial quase intocável desde seu nascimento no século dezessete, mais pela religiosidade de seu povo, a “maioria”, segundo a história oficial, descendente de paulistas como os bandeirantes que por sua vez descendentes diretos dos portugueses, católicos praticantes, o catolicismo está em evidência. Em todos os livros que recontam a história de Goiás poucos escritores resaltam a quantidade de negros que aqui viviam entre o século dezoito e dezenove, período em que Goiás conheceu seu apogeu e sua quase ruína, menos ainda se fala dos rituais que estes negros práticavam as vezes até com a presença dos seu senhores. O que eram exatamente as irmandades negras? Apenas um passaporte para a ascensão do negro na sociedade vilaboense, já que não podiam estar na mesma igreja dos brancos, ou uma forma sincrética de adorar seus orixás.
Cristina de Cassia Pereira (2000) escreve que a presença de elementos de origem indígena e africana nos rituais das irmandades de Minas Gerais e Goiás eram a prova do enraizamento dos sertanistas dos indios e dos africanos.
Sebastião Fleury Curado (1989) descreve um ritual que acontecia durante os festejos de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos na cidade de Goiás. Sem muita ênfase, segundo ele por falta de registros, sobre a chegada da rainha negra, ponto alto da festa do Rosária onde era escolhida uma negra para representação da rainha africana, existem registros de uma festa parecida em Angola, um país africano onde séculos atrás existia uma tribo liderada por uma rainha chamada Nzingua Mbandi. Esta tribo ficou conhecida segundo Nei Lopes (1988) por lutar sem trégua contra o colonialismo portuguès e por ter em seu cárteu variás amazonas negras, por muito tempo o reinado de Nzingua resistiu aos ataques portugueses e os venceu em variás batalhas.
Escritores antropòlogos como Roger Bastide, Cliffort, Nei Lopes e outros que escrevem sobre rituais africanos e a sua contribuição na invenção identitária do Brasil ressaltam semelhanças nós rituais praticados aqui no Brasil e em Goiás, agora segundo Fleury Curado (1989) ele descreve assim o ritual: “...com antecedência de semanas (...) se preparava a entrada da rainha (...) as mucamas preparavam muito tempo a “entrada da rainha” (...) festa profana e religiosa, que abalava a cidade inteira de Goiás (...)”.
Se eram tão importante, por que se perdeu logo depois do fim da escravidão se ali é que devia ser o seu auge? O autor Fleury ressalta que, apesar da importância desta festa para a cidade há poucos registros sobre seus cortejos, muitos já escreveram sobre as irmandades negras em Goiás e trabalharam suas ramificações com as irmandades de Minas Gerais, Rio de Janeiro e outras cidades, mais poucos partiram do pressuposto de que elas eram apenas o refúgio para os negros cultuarem seus orixás. E menos ainda sobre isto em Goiás, nossa Vila Boa ainda é conhecida pela suas celebrações cátolicas, suas procissões de adoração, nada se fala da tradição reinventada da Umbanda que agrega nos seus cultos as riquezas das irmandades negras nas suas orações, ora africana ora portuguesa, e em si tratando de Goiás, será que quando o autor chama a festa da rainha negra que acontecia nós festejos do Rosário de festa religiosa e profána ele estava se referindo apenas ao fato de haver durante o cortejo bebidas, ou ao detectar neste festejos vestigios africanos que aos olhos vilaboenses da época faziam parte de uma religião pagã, a africana. Muitos séculos se passaram desde que a festa de Nossa Senhora do Rosario não é mais a mesma, talvez agora aos olhos de muitos ela tenha se tornado apenas religiosa, talvez seja por isto que a festa do Rosário tal como era perdeu-se no tempo sem deixar vestígios.
A falta de mémorias negras em Goiás é uma lacuna que precisa ser preenchida e cabe a nós, futuros gestores do patrimônio, e vilaboense que sou, por isto guardiã destas memórias e reconstrutora desta história agora sobre uma nova óptica, a negra.
Em suma este texto e parte de minhas pesquisas que trabalham com memórias reconstruídas em Goiás sob os olhos da religião afro descendente, a Umbanda, o propósito é reescrever a história das irmandades negras em Goiás inserindo em seus rituais o nascimento dos cultos umbandisticos em Goiás, por isto na primeira parte resalta o surgimento da Umbanda no Brasil, seus cultos e sua matrix africana.
“...Eis as notas que constituem simples escôrço e que só podem interessar aos filhos da cidade de Goiás,(...) a festa do Rosário, tal como era feita, desapareceu. Assim, a irmandade do mesmo nome, composta de negros escravos...”, (Curado, Sebastião Fleury, Memórias Históricas, 2a edição, 1989).